quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

TimeOut

TOK’ART pela primeira vez


Está aí uma nova plataforma de dança. Mas atenção: a TOK’ART não quer só dançar. Quer tocar-lhe. Sara Gomes explica como.

Um olhar. Um beijo. Depois, a ousadia de tocar. Sem deixar marcas? Impossível. Que sentimento é que o acto de tocar provoca no outro? E em nós? Não há uma resposta inequívoca. O toque tem múltiplas possibilidades e desperta sensações difíceis de decifrar. Ou prever. Depois da estreia no Cartaxo, Como É Bom Tocar-te, do coreógrafo André Mesquita, apresenta-se este sábado no Cinema São Jorge, em Lisboa. O espectáculo – um exercício de reflexão sobre o toque – é o primeiro da TOK’ART, uma nova plataforma de dança. Alguns dos criadores e bailarinos do extinto Ballet Gulbenkian fazem parte do projecto.

“Quisemos trabalhar sobre a pele, a carne, o poder do beijo, o toque que existe também nos olhares”, diz o coreógrafo acerca de Como É Bom Tocar-te. A ideia surgiu de um convite para coordenar um projecto sob o tema “O Corpo Colectivo” na Universidade de Hildesheim, na Alemanha. Depois veio a descoberta de On Touching, do filósofo francês Jacques Derrida, considerado o pai do desconstrucionismo. “A obra é muito sugestiva. Percorre todas as dimensões que o toque pode assumir na vida das pessoas”, diz André Mesquita. E acrescenta: “O que fizemos foi recolher alguns pressupostos sobre a vivência do toque e tentámos estabelecer nexos de causalidade entre eles.” Em palco, são cinco bailarinos. Há momentos em que os seus corpos parecem acusar a dor de um toque desferido com ódio. Mas poderá o amor ser o verdadeiro culpado? Não é fácil dizer.

A reflexão vai mais longe. Propõe-se ainda repensar o efeito (ou não efeito) das imagens de destruição que todos dias nos tocam e chegam através dos media. André Mesquita adverte: “Não há aqui intuito de politizar qualquer questão. Não apresentamos soluções.”

Em Como É Bom Tocar-te os gestos cortam o espaço ao som da música minimalista de Alva Noto, Sigur Rós, Pan Sonic e M. Zion. “Procurámos um suporte musical que estivesse ligado à reflexão e à vivência que, ao longo do tempo de criação, fomos fazendo sobre esta temática do toque”, diz André Mesquita. “Criámos um ambiente que se pauta por alguma sobriedade no gesto, na imagem e, naturalmente, também na música.” O vídeo é, aqui, também usado como recurso: “Utilizamo-lo para ampliação do detalhe.” Apesar de contar no elenco com elementos que fizeram parte do Ballet Gulbenkian, como a bailarina Teresa Alves da Silva, a TOK’ART não tem qualquer intenção de substituir a histórica companhia. “Depois da extinção, entendemos que houve um espaço que ficou aberto, e material humano que o poderia preencher. Apenas isso. Em comum, só há os intérpretes.” Em Fevereiro, a TOK’ART conta estrear a segunda criação, Cinderela. Entretanto, esperam tocar outros públicos – dentro e fora do país – com Como É Bom Tocar-te. “Se a partir deste trabalho surgirem interrogações sobre a forma como cada um de nós ‘toca’ a sua própria realidade e a dos outros, teremos cumprido o nosso objectivo.”

‘Como É Bom Tocar-te’ estreia no dia 8, sábado, às 21.30. Cinema S. Jorge. 5 a 7,5€.

terça-feira, 4 de Dezembro de 2007

1 comentário:

Anónimo disse...

Teresa que menina especial que és. Muito honras o bailado nacional.Tocaste, tocaste-nos. um abraço melita